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1. |
BABES DO ZODÍACO
04:16
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não me está a parecer
que isto vá resultar
babes, babes, babes, babes
do Zodíaco
ouço à minha frente
um rosto indiferente
peço que esta história
me fique na memória
ganho confiança
dou um passo de dança
sol de pouca dura
solidão sem cura
peço mais um fino
fico atordoado
solto a verborreia
sigo embalado
sol em Leão
lua em Sagitário
tento entrar na cena
sinto-me um otário
mudo para o vinho
para ser solidário
tóxico caminho
da busca de carinho
a mesma rotina
em qualquer cidade
os astros da paixão
sofrem de ansiedade
ouço minha frente
outro rosto indiferente
mas peço que esta história
me fique na memória
ganho confiança
dou um passo de dança
sol de pouca dura
solidão sem cura
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2. |
VENHAM AS MÁQUINAS
03:43
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venham as máquinas
varrer o chão
não há vassalo
não há patrão
sem reverência
nem continência
venham as máquinas
é uma urgência
não, eu não estou a brincar
venham as máquinas
porque eu não estou a brincar
venham as máquinas
não, eu não estou a brincar
venham as máquinas
venham as máquinas
erguer os prédios
e aprenderemos
a cultivar os tédios
sentir sem peso
pensar sem freio
venham as máquinas
queremos recreio
batalha por emprego não garante sossego
luta só dá fruta se acabar com a exploração
riqueza mal parida tem de ser distribuída
ocupa o leme frio do navio dos meios de produção
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3. |
EGOSSISTEMA
03:05
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eu, eu, mais eu
eu, só eu, mais eu
ego, ego, ego, ego, ego
eu não boto prego a fundo eu afundo o prego
olhei de frente para a luz e ceguei o Sol
encornei as utopias, virei messias
eu é que dou afinação ao diapasão
choquei contra o Chuck Norris, ele caiu ao chão
sou eu quem suga o sangue dos vampiros
a minha azia contagia mais que a pandemia
já o meço desde os tempos do liceu
o meu ego é maior que o teu
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4. |
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Big Bang no armário
Evereste no jardim
Titanic no aquário
Torre Eiffel na régie
tsunami no quarto
terramoto no quintal
avalanche na varanda
dilúvio na Sala Oval
daqui é um I
daí é um T
quanto mais penso em ti
mais o monstro se vê
formigueiro nas veias
colmeia no peito
crocodilos na barriga
ventre sempre insatisfeito
chão inundado de lava
água cheia de piranhas
resta trepar a parede
mas tem um milhão de aranhas
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5. |
POLITICAMENTE CORRECTO
04:09
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somos a nova milícia
da susceptibilidade
não olhamos à família
ao credo ou à idade
primária na inquisição
liceu com a mocidade
mestrado em chibaria
doutores da moralidade
ninguém cospe no passeio
nem insulta no recreio
se alguém se mete no meio
cancelamos o pasquim
há que ganhar coragem
para pôr fim
a tanta libertinagem
erguemos muros na escolha
só pintamos na nossa bolha
politicamente cú
politicamente recto
politicamente correcto
basta um ofendido
que não damos tréguas
e apertamos as rédeas
e se for preciso
formamos um partido
proibimos a comédia
somos exageradismos
por um mundo à nossa imagem
que prefira o conteúdo
à porra da embalagem
frustrados e deprimidos
por nunca passar mensagem
somos voz dos oprimidos
que não se sentem seduzidos
empinamos o nariz
da lógica-dedução
somos vitórias morais
em qualquer discussão
liberdade é o chavão
desta contradição
que mantemos por perto
mas se irritamos fascistas
algo está a bater certo
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6. |
RELAXA QUE ENCAIXA
04:32
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o meu novo deus
tem sotaque lisboeta
é roubado
e deixa gorjeta
trabalha como um cão
mal dá para o pão
respeita o hotel
e limita a diversão
aceita o fado
as leis do mercado
atravessou o rio
foi viver para o outro lado
o meu novo deus
tem sotaque do Porto
ignora quem diz
que o seu ventre está morto
foi gentrificado
não levou a mal
vibra com as fachadas
do turismo local
manga arregaçada
bom patriarca
pintou a parede
transformou-se numa marca
o meu novo deus
tem sotaque lamecense
nunca se chateia
com o que não lhe pertence
olha da janela
o horizonte precário
guarda as ideias
todas no armário
reza por arroz
e silêncio total
já nem acorda
com o barulho do festival
diz o meu novo deus
num sotaque qualquer
que posso ser feliz
sempre que eu quiser
não adianta
cansar a garganta
ficar chateado
só causa mau olhado
semeia fé
num culto festivo
de auto-ajuda
e pensamento positivo
o meu novo deus
só tem um mandamento
relaxa que encaixa
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7. |
JANGADA DO VAZIO
02:39
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indecisos entre a ilha e o continente da partilha
perguntamos ao espelho se é para isto que cá estamos
assistimos à sangria iludida da euforia
a desistência paira mas nunca se implanta
não há manta para o frio na jangada do vazio
entramos na garagem para limar uma aresta
demora sei lá quantos anos até ver a luz do dia
convencidos que a nossa obsessão é terapia
peito de betão, lago na testa
paras o scroll e fazemos uma festa
e afirmamos de antemão a dispensa de atenção
em laboratórios-erro para fórmulas com substracto
calamos a frustração por não estarmos nas listas
sonhamos com respostas mas não damos entrevistas
relação agridoce com o anonimato
os tempos do engenho elevaram a bitola
ninguém fura o nevoeiro sem coelhos na cartola
tatuamos nas entranhas o que nunca ninguém lê
abraçados aos sonhos que encontrámos na tv
sonhamos com cachet mas tasse bem por uma esmola
não há manta para o frio na jangada do vazio
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8. |
PEITO FEITO
04:33
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já não ergo um peito feito
já nem penso em emigrar
não nasci de cú virado para a Lua
mas nunca me faltou o ar
já não quero mais provar
o mundo todo numa só colher
ainda lambo feridas de língua afiada
mas já não me dá prazer
já não vou salvar o mundo
nem quero ser imortal
ainda faço os meus planos sobre-humanos
mas se não cumprir, não faz mal
encontrei o meu sossego
no eterno desemprego
ancas exaustas de tanto jogo de cintura
mas não me algemo à amargura
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9. |
NEURA DE IMPOSTOR
02:42
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não sei dizer o que estou aqui a fazer
quero gritar mas nem dá para respirar
taças cinzentas de conquistas fraudulentas
sonhos banais, amizades sazonais
tenra idade para perder curiosidade
fosca visão, ponho em causa a direcção
não sei dizer o que estou aqui a fazer
corpo dormente, nunca nada é suficiente
não tenho fome
não tenho sede
não tenho luz
não tenho rede
não tenho alvos
não tenho medos
não tenho
nada
não sinto cheiro
não sinto cor
não sinto prazer
não sinto dor
não sinto frio
não sinto calor
não sinto
nada
não quero filhos
nao quero pais
não quero álcool
não quero sais
não quero menos
não quero mais
não quero
nada
não sei dizer o que estou aqui a fazer
quero gritar mas nem dá para respirar
quero castrar a vontade de agradar
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10. |
EXORCISMO
04:20
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deixa passar
deixa passar a maré
deixa passar
deixar passar a maré
o vento está diferente
já quase não se sente
deixa passar
há sempre
um novo horizonte
escondido atrás do monte
pantanoso do Nada
deixa passar
há sempre
luz no meio da estrada
e a ideologia
a dar força à braçada
deixa passar
há sempre
o calor da memória
conversas de café
a gerar fé contraditória
deixa passar
deixa passar a maré
o vento está diferente
e já quase não se sente
deixa passar
há sempre
moleza no rochedo
ao fazer de um segredo
um sussurro partilhado
deixa passar
e nenhum
monstro do passado
derruba a fortaleza
de um corpo apaixonado
deixa passar
podemos grItar
até o medo estancar
deixa passar
deixa passar
deixa ruir
deixa cair
deixa partir
deixa bater
deixa varrer
deixa queimar
deixa furar
deixa sangrar
e deixa sangrar
podemos gritar
o medo há de estancar
deixa passar
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Saliva Diva Porto, Portugal
Independent Record Label based in Porto, Portugal, mainly focused on the portuguese underground band scene.
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